Sobre a tal Felicidade
- Lívia Gonzalez
- 5 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de mar.
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Para Epicuro e Aristóteles a felicidade está relacionada aos prazeres da vida. Na qual, o ‘Hedonismo’ (teoria em que o prazer desempenha o papel central) é exaltado em detrimento da ‘Eudaimonia' (a procura da felicidade através da virtude e ética).
Para o filósofo Montaigne, estar presente seria uma das formas mais assertivas para ser feliz: “Quando eu danço, danço. Quando durmo, durmo!”
O psicanalista Contardo Calligaris dizia algo neste sentido também – para estarmos no presente, não nos distraindo da nossa vida concreta e desfrutando com coragem e atenção as aventuras que a vida nos proporciona.
Os Estóicos, além de defenderem o autoconhecimento para desenvolver a consciência em relação às emoções, não deixando que elas assumam o controle sobre nós, afirmavam que usar o tempo em favor de uma vida feliz nos obriga a viver o presente com plenitude.
Mas a felicidade só se experimenta no momento presente?
Se a nossa felicidade é alimentada pela qualidade da atenção que damos ao que fazemos, sonhar acordado, imaginando outras realidades, fazendo planos, escapando do momento presente seriam, deste modo, fontes de estresse e infelicidade?
Para o filósofo e sociólogo Frédéric Lenoir não é necessário banir todo o devaneio. É preciso saber equilibrar a concentração e atenção com o vagar das ideias e das inspirações: “Descontração é diferente de ruminação”. E ele ainda complementa: “Se a nossa felicidade depende muito da nossa capacidade de viver no instante presente, ela também depende de nossa aptidão para nos lembrarmos dos momentos felizes da nossa vida”.
Ou seja, sonhar acordado pode ser uma boa ferramenta para fugirmos dos frenéticos estímulos externos que nos rodeiam 24 horas por dia para que possamos nos distanciar; aprimorando a nossa imaginação e criatividade e encontrando nosso impulso vital.
Para o filósofo britânico Odysseus Stone, a ideia de que podemos viver completamente no momento presente é uma ilusão que não nos ajuda no caminho da felicidade. Pois, para darmos sentido às coisas ao nosso redor, precisamos de referências implícitas ao passado ou ao futuro; característica fundamental da nossa experiência do mundo.
A busca da felicidade é uma jornada racional?
Tenho percebido que a obsessão pela felicidade tem se tornado um obstáculo à felicidade em si. Para o psicólogo israelense Tal Ben-Shahar a obsessão por ser feliz o tempo tem feito as pessoas se sentirem péssimas.
Sem falar que existe uma mercantilização ilusória e superficial da felicidade. Temos que estar atentos em relação a isso.
Outro dia li que a sorte acompanha quem não tem juízo. Não poderíamos chamar a falta de juízo (o pensamento racional) de intuição?
Em minha prática semanal de yoga, logo no início da aula, a querida Camila Gholmia Popreaga nos orienta: “Agora vamos trazer os dedos das mãos em direção à testa, unindo a mente – manas, o ego - ahaṅkāra e o intelecto – buddhi para estarem a frente e a serviço do seu coração”. Ou seja, ao contrário do que pregam por aí, seguir a vida escutando o nosso coração ao invés da nossa razão seria o caminho mais correto a se fazer, não é mesmo? De qualquer forma, existe razão sem emoção?
Porém, como diriam Leda Cartum e Sofia Nestrovski (do maravilhoso podcast ‘Vinte Mil Leguas’) acredito que não precisamos pensar e viver por antagonismos, como temos feito nos últimos séculos, separando disciplinas e colocando os saberes e estudos em oposição: ciência x religião, teatro x fato, imaginação x realidade, ocidente x oriente. “Estamos precisando de horizonte mais largos - a soma de todas as coisas que compõem a vida”, afirmam elas.
Como nos nutrimos?
Falando sobre estímulos externos, tenho lido com frequência sobre como nos nutrimos de tudo o que nos rodeia e como é importante saber fazer um filtro do que merece o nosso tempo e a nossa atenção em direção a uma vida feliz, sejam os amigos que escolhemos, as conversas que temos ou os pensamentos que cultivamos.
O termo ‘Infoxication’ está muito relacionado a isso: estímulos visuais, auditivos e sensoriais, que desviam nossa atenção a cada minuto. Como vivemos na chamada ‘Era da Informação’, precisamos ser ainda mais cautelosos com todo o conteúdo que consumimos. Não à toa todo esse volume de informação criou o termo ‘Information Fatigue Syndrome’, descrito por David Lewis, filósofo norte americano.
Neste sentido, o produtor musical Rick Rubin é enfático no que diz respeito ao filtro que devemos fazer em relação às informações: “Se, em vez de ler notícias, você escolher ler clássicos da literatura todos os dias durante um ano, sua sensibilidade para reconhecer a grandeza dos livros, e não da mídia, estará mais apurada no fim do período...Como há uma quantidade infinita de dados disponíveis é preciso pensar com cuidado, selecionar bem a qualidade do que deixamos entrar em nosso dia a dia”.
Eu realmente acredito que não existe uma jornada única e que, quanto mais tivermos uma visão holística das coisas, em direção ao caminho do meio (como diriam os budistas), poderemos fazer uma justa compreensão das coisas.
Qual caminho você tem escolhido na sua jornada em busca da felicidade?
Afinal, como diria Mary Oliver, poetisa norte americana: “Diga-me: o que planeja fazer com a sua vida única, fantástica e preciosa?”